Eu chego, puxo uma cadeira e me sento. Olho para o relógio e são 8h15. Olho para o professor, presto atenção no o que ele fala, pego o meu celular, abro o Instagram, atualizo a página, fecho o aplicativo, olho de novo para o professor, abro o meu notebook, faço três demandas do meu estágio, fecho o meu notebook, olho para o relógio e são 8h17. Não é possível que essa sala de aula não tenha pausado o tempo. Começo a entrar em desespero porque o tempo não passa e, no meio da crise, olho para a minha amiga (um alô para a minha amiga nicole) e eu sei que ela está sentindo a mesma coisa que eu. Chego a conclusão, então, que eu não sou louca.
Você pode não ter percebido, mas eu acabei de narrar uma das milhares das minhas crises de meia idade tendo apenas 20 anos. Em um curto período de tempo, eu consigo pensar que não vejo a hora de estar de férias. Na verdade, eu não vejo a hora de me aposentar. Sim, eu pulei de alguns meses para alguns anos.
Não é de hoje que eu tenho esse pensamento e sempre fiquei me auto julgando de preguiçosa. Trabalhar é importante, estudar mais ainda. Você aprende novas coisas, você pode crescer mentalmente e, um dos mais importantes, você pode construir sua liberdade financeira. Mas, é claro que um dos sintomas de ansiedade não vai me deixar escapar. Eu começo a pensar em como eu nem fui efetivada em um emprego ainda, eu nem me formei, eu ainda tenho vários anos de acordar, trabalhar, dormir, acordar, trabalhar, dormir…
Quando eu vejo, já começou uma bola de neve. O desespero vem, a preguiça aumenta, o auto julgamento começa. A noia fica tão grudada na minha cabeça que começo a pensar: “só eu que sou assim?” E aí, eu lembro da minha amiga (alô pra nicole de novo) e ela fala que sente a mesma coisa. Ok, então eu não sou uma doida surtada. Ou, talvez, eu e ela somos.
Essa é a hora que eu acalmo minha mãe. Não, eu não pedi demissão do meu estágio e nem tranquei a faculdade. Nem pretendo fazer isso. Porque, apesar de ter uma crise de meia idade e ansiedade por pensar nos anos de trabalho que eu ainda nem vivi, construir a minha liberdade de pensar vale muito mais que isso tudo.
Não só a de pensar, mas a financeira também. Acho que as pessoas não conversam muito sobre isso porque dinheiro virou um tabu na sociedade. Na minha cabeça jovem e com pouca experiência de vida, ter liberdade financeira é um sonho. Poder cuidar da sua saúde, do seu bem-estar e se mimar, é algo que vale ser conquistado. Mas, para deixar claro, eu sei o meu privilégio. Hoje várias famílias do Brasil estão passando fome, e eu sou muito grata pelo privilégio de ser sustentada pelo os meus pais neste quesito. Gostaria, do fundo do meu coração, que todos tivessem a oportunidade de estudo, trabalho e conforto que eu tenho.
Tá vendo? Eu já comecei a me julgar de novo por estar reclamando de ter que trabalhar para me sustentar no futuro. Ok, parei. Mas fome é assunto sério, tá gente? Procurem sempre serem gratos pelo o que tem e ajudar quem não tem. Esse assunto também diz um pouco sobre as pessoas se desesperam por terem 50, 60 ou, até, 70 anos e já terem trabalhado muito para continuar “sem dinheiro”. Infelizmente, no país em que vivemos, não é fácil ter um planejamento financeiro. Não se julgue por começar a ter um pouco depois. (eu falando isso depois de me julgar horrores)
Mas, resumindo, minha crise de meia idade nunca foi por idade mesmo. Eu nunca me importei em ficar mais velha, inclusive amo. Não vejo a hora de ser velha, xingar todo mundo e as pessoas só responderem “ela pode, ela é velha já”, cochilar no meio de um filme, não ficar irritada porque eu só vi que botei a camisa do avesso quando já sai de casa. Minha crise é justamente ao contrário, é porque eu sou jovem e ainda tenho muita coisa para viver e aprender. Ih, gente. Escrevi esse último parágrafo e a crise passou um pouco.
Ainda bem que não trabalho.
Por Chico.
Bom mesmo a crise ter passado. Eu não trabalho, eu dou trabalho. Preciso de alguém para me sustentar e essa pessoa é justamente você. Então, trate de parar de ser uma mimada preguiçosa e vai estudar e trabalhar. Quem pariu Mateus que balance.
Acho que esse texto foi a minha deixa para dizer que quando li a informação de que você é de 2001, eu fiquei um pouco mal. A dor dos anos bateu nas costas (e ela dói). Quantos anos eu tenho? 26. Sim, com 26 anos eu me sinto velha, apesar de saber que muita gente vai dizer que eu sou jovem. De fato, ainda sou, só não me sinto mais assim. Tento lembrar dos meus 20 anos e mesmo não tendo essas lembranças, fico desejando poder voltar. Depois da pandemia tudo piorou. O tempo parece ter passado numa velocidade tão avassaladora que me atravessa até hoje. Parece exagero, eu sei. Você está no “tempo certo” de uma graduação. Eu, comecei um curso superior somente agora, justamente por essa falta de oportunidade que você também pontuou no texto. Infelizmente, há muitas realidades desvalorizadas nesse país, o que é muito triste. Enfim. Comentário longuíssimo, mas é muito curioso como esse negócio da idade, seja do meu ou do seu ponto de vista, batem em nós, mulheres. Btw, também queria poder me aposentar.